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CONQUISTADORAS URBANAS
Conquistadoras Urbanas
2014-05-30
Conquistadoras Urbanas

Laura Alves e Vitorino Coragem estão a dar a conhecer ao mundo 20 mulheres que diariamente fazem da bicicleta o seu meio de transporte. 
Um projecto documental que até pode resultar num estudo social.

 

Depois de ter sido co-autora do livro A Gloriosa Bicicleta, a jornalista Laura Alves juntou-se ao fotógrafo e documentarista Vitorino Coragem e voltou a embarcar numa parceria que nos conduz ao universo da ciclocultura. Maria Bicicleta foi o nome escolhido para o projecto documental que durante 20 semanas dará a conhecer 20 mulheres que diariamente enfrentam a cidade sobre duas rodas.

Todas as semanas, o site mariabicicleta.com é actualizado com uma nova ciclista, apresentada através de cinco fotos e de cinco frases. E desengane-se quem pensa que a escolha das “marias” obedece a critérios muito apertados. “O único critério que temos ao seleccionar as mulheres que participam no projecto é serem mulheres que, de facto, utilizam a bicicleta no seu dia-a-dia, não apenas em passeio ao fim-de-semana ou enquanto actividade desportiva”, explica Laura. “Não existe nenhum critério estético nem geográfico, muito embora, devido às limitações próprias de um projecto que é desenvolvido a par das nossas actividades profissionais, não tenhamos ainda podido ir além de Lisboa e Porto.”

 

Pese estas limitações, a dupla tem percebido que o projecto é transversal a várias áreas. Nas histórias e episódios contados pelas participantes conseguiam desvendar questões de género, questões sociais, temas que dizem muito no que respeita à igualdade e emancipação feminina, mas também questões que têm a ver com a utilização do espaço público, com o urbanismo e com a qualidade de vida nos grandes centros urbanos, com o repensar das estruturas e das políticas económicas, sociais e ecológicas. “Nesse sentido, o nosso projecto poderá também dizer muito à sociedade fora do âmbito da ciclocultura”, explica a co-autora, que manifesta o desejo de ver o Maria Bicicleta dar origem a um livro.

Às páginas tantas, a conversa toca na possibilidade de o projecto vir ajudar a desmistificar aquela ideia de que andar de bicicleta é mais coisa de homens. Laura Alves acredita que esse é um pensamento cada vez mais ultrapassado, e que andar de bicicleta numa vertente de mobilidade é simplesmente “uma actividade prática, que tem ainda o bónus de proporcionar uma certa reflexão, um espaço pessoal muito interessante e uma tendência para aumentar o bem-estar”.

 

Missão: mudar mentalidades

Estarão Portugal e os portugueses prontos para acompanhar a crescente utilização da bicicleta como meio de transporte prioritário?

Tal como no resto da Europa, há cada vez mais portugueses a darem prioridade à utilização da bicicleta. Mas para que a mobilidade assente em duas rodas se torne algo perfeitamente normal e enraizado há ainda um longo caminho a percorrer. “Para que tal aconteça será necessário mudar muito as mentalidades e começar na base, em casa, na escola, com as crianças, incutindo-lhes um sentido ecológico e um sentido cívico à medida de outros países onde os cidadãos se preocupam com o bem-estar social”, afirma Laura Alves. A co-criadora do projecto chama, inclusivamente, a atenção para o facto de Portugal ser um país onde a dependência extrema do automóvel criou uma certa cegueira social, não admirando, por isso, que ainda se olhe para a utilização da bicicleta como um sinal de ausência de poder de compra. E, sublinhando o facto de as autarquias estarem mais dispostas a apostar em infra-estruturas – ciclovias, corredores cicláveis, ecopistas, vias partilhadas, parqueamentos –, deixa um alerta: “As infra-estruturas em prol da mobilidade ciclável devem ser desenhadas, planeadas e construídas do ponto de vista da optimização urbanística, para se integrarem de forma excelente na paisagem urbana e trazerem vantagens a todos. Não basta pintar um sinal no chão para que uma via seja considerada uma ciclovia segura.”

Daí que tardem as infra-estruturas bem planeadas e o respeito na estrada.

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