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À VONTADE E À MEDIDA DO FREGUÊS
À vontade e à medida do freguês
2016-07-28
À vontade e à medida do freguês


A História é cíclica e o ser humano é perito em recuperar tradições que se pensavam já extintas. E há ideias que em boa hora regressam. É o caso da Maria Granel, uma “senhora” que, pelo nome, aparenta certa idade, mas que, quando vista de perto, tem tanto de fresca como de atual. Não se trata realmente de uma pessoa, antes de um supermercado biológico que trouxe do antigamente não só o nome, como, e sobretudo, o apelido.

 

Aqui, nesta mercearia de Alvalade, em Lisboa, vende-se tudo a granel – tal e qual as mercearias antigas, onde os fregueses se abasteciam à medida das suas necessidades –, mas desengane-se quem achar que a moda do revivalismo esteve na base da criação deste negócio. Na realidade, este tipo de negócio já prosperava por outros cantos da Europa quando Eunice e o marido, Eduardo, decidiram devolvê-lo a Lisboa. “As nossas memória estão particularmente associadas ao campo e à terra [Eunice é minhota e Eduardo açoriano] e são essas raízes que definem a nossa identidade.

Queríamos dar continuidade a esse património afetivo e este projeto é isso mesmo: um regresso às origens, um regresso a casa”, contam.

 

Mais do que recuperar o ambiente comercial dos tempos de infância, o objetivo foi apresentar uma alternativa de consumo consciente e sustentável, onde o cliente não fica limitado aos produtos embalados, devolvendo-lhe a liberdade de escolher a quantidade de produto que deseja. “Para quê adquirir um pacote inteiro quando na verdade só se deseja provar um bocado?”, questiona Eunice, lembrando que a lógica atual de mercado empurra para o consumo desmedido e irresponsável.

Mas já não tem de ser assim. A Maria Granel chegou para pôr ordem no desperdício e assume se, assim, como a primeira mercearia biológica exclusiva de produtos a granel em Portugal. Com um portefólio com mais de 300 produtos, a loja está organizada por secções e são os clientes que vão sugerindo novos acrescentos à enorme variedade já existente de especiarias e temperos, algas, chás e infusões, superalimentos, arroz (há mais de 20 variedades, desde o tradicional ao selvagem, passando pelo vermelho), chocolate, farinhas, leguminosas, cereais, pão, café, azeitonas, ovos e mel de urze. Também há gomas e bolachas numa ilha especialmente dedicada aos doces, mas o que torna esta Maria ainda mais diferenciadora é o facto de não haver embalagens. Numa decisão consciente e deliberada, o cliente é incentivado a trazer os seus próprios recipientes e a descontar o seu peso no produto final – em último caso, pode adquirir sacos de papel reciclado e frascos de vidro de diferentes dimensões na loja, mas idealmente não é isso que se pretende e, para boa surpresa do casal, a esmagadora maioria dos clientes já vai preparada para essa situação. “Basta este gesto para ter um impacto considerável na redução das emissões de CO2 e na quantidade de resíduos produzidos”, conta Eunice à Recicla.

 


Diretamente do produtor

 


A proximidade entre o produtor e o consumidor também é uma das grandes apostas desta mercearia, para que quem chega estabeleça imediatamente uma relação de confiança com os produtos que vai adquirir, com a garantia de que aqui não há ingredientes geneticamente modificados e tudo o que está à disposição tem selo de garantia no que diz respeito aos métodos de produção natural, orgânica e biológica e sem impacto agressivo no ecossistema.

Para isso, diz Eunice, “os fornecedores da loja, nacionais e internacionais, foram selecionados com base nos nossos valores comunitários de qualidade e sustentabilidade e, sempre que possível, estão devidamente identificados junto dos seus produtos”. Dar prioridade à produção nacional é uma das missões do negócio, mas Eunice admite que o mercado de produção biológica em Portugal ainda revela algumas falhas em variedade de produtos e métodos de abastecimento. Nesse caso, e porque a ideia é oferecer aos clientes produtos suficientes que evitem deslocações a supermercados convencionais, recorre-se à importação. Para já, o objetivo continua a ser conquistar público de diversas faixas etárias, mas, como essa missão já está a ser levada a cabo com sucesso – os elogios são constantes e há cada vez mais clientes fidelizados –, a ideia é continuar a passar a mensagem na esperança de reeducar os hábitos de consumo dos portugueses. Ou, em última análise, lembrá-los de que antigamente é que era.
 

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