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NÓS RECICLAMOS!
Nós Reciclamos!
2013-11-26
Nós Reciclamos!

Há cada vez mais portugueses a renderem-se à separação dos resíduos em casa. 
Sem esforço e com muita motivação, para eles reciclar é um prazer.

 

O mais provável é que Filipa, Margarida e André, durante a vida inteira, sejam responsáveis, em conjunto, pela produção de 120 mil quilos de lixo. No entanto, graças aos seus hábitos diários de reciclagem, cada um deles pode compensar essa pegada e contribuir, por exemplo, para a produção de 10 mil garrafas de vidro e 85 mil caixas de ovos, ou para o fabrico de um tubo de rega com o comprimento da Ponte 25 de Abril. Separar diariamente as embalagens usadas pode parecer um pequeno gesto, mas, segundo o estudo Hábitos e Atitudes face à Separação de Resíduos Domésticos 2011, efectuado pela empresa Intercampus a pedido da Sociedade Ponto Verde, 69% dos lares portugueses já compreenderam que faz toda a diferença. No início de Abril, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, alertou: “Em breve será demasiado tarde. Temos de agir agora se quisermos que em 2050 o planeta seja habitável para os seus 9 mil milhões de habitantes”. Filipa, Margarida e André já assumiram o compromisso de fazer a sua parte. O que o impede de segui-los?

 

Vício positivo

 

O hábito da separação do lixo faz parte, desde sempre, da rotina de Filipa Fortunato, empresária e formadora na área da comunicação emocional. “No início, lembro-me de pensar que não dava jeito. Só tínhamos um balde e aproveitávamos os caixotes das mudanças para os outros resíduos. Ou a cozinha ficava com um ar de lixo, ou roubávamos espaço de arrumação nos armários, que é sempre pouco”. Mas os aparentes obstáculos não a demoveram: “A causa é tão nobre que nunca desistimos”. Na casa onde agora mora com o marido e os três filhos o mobiliário da cozinha já foi desenhado com os compartimentos para a separação e, por isso, “deixou de ser um problema”. Ao fim-de-semana, a ida aos molokes (tipo de ecopontos em que a maior parte do reservatório se encontra debaixo do chão), é um programa de família: “Mete-se tudo no carro e vamos ao lixo”. É de tal forma uma prática diária, que Filipa nem questiona. “É uma atitude, não é algo que se faça porque é suposto. É como lavar os dentes todos os dias”.

Com outras pessoas aprende truques que valorizam a sua opção: “A avó do meu marido ensinou-me a passar por água as embalagens do leite e a aproveitar aquelas pingas finais para regar os canteiros de flores. Ficam maravilhosas”, garante. Esta empreendedora de 38 anos fica “de queixo caído” perante argumentos como “por que vou fazer se o outro não faz?”. “Uma pessoa não pode pensar só em si”, defende com convicção. “Acredito que tudo aquilo que fazemos, recebemos em dobro”.

Para quem pensa dar os primeiros passos na reciclagem, Filipa deixa como principais conselhos criar condições em casa para facilitar a separação e envolver toda a família. O resto virá por si, até porque, acredita, “cuidar do planeta torna-se um vício positivo”. Com este espírito luta há três anos por implementar o Recoopera, projecto de recolha de lixo nos bairros sociais de países com graves carências. Através de parcerias locais, Moçambique parece ser o primeiro lugar onde conseguirá luz verde para este sonho. “Reciclar, recriar, reinventar, reduzir são valores que me fascinam e que sinto que ajudam mesmo a construir um mundo melhor”. À pergunta qual a sua maior motivação para estes temas, responde sem hesitar: “Não é só pelos meus filhos e netos. É por todas as pessoas”.

 

Nunca é tarde para começar

 

Um saco para o papel e um recipiente com duas divisões, uma para o vidro e outra para os plásticos, é o que basta a Margarida Perlouro para fazer a separação do lixo em casa. Comerciante, com 56 anos, aproveita “todos os restos da cozinha, como cascas de batata, ramas e ervas”, e coloca-os num saco na gaveta do frigorífico. “Ao fim-de-semana levo-o para a minha casa em Salvaterra de Magos para fazer compostagem”, explica. Lembra-se de ter estes cuidados desde sempre: “Nasci no campo e na província sempre fizemos assim. Porque é que vou mandar coisas para o lixo quando têm utilidade e podem ser aproveitadas para o nosso bem?”.

Sente que os mais velhos são os que precisam de mais informação e que todos temos o dever de ensinar as várias gerações. Na sua papelaria, na Parede, aproveita todas as ocasiões para falar nestes temas. “Por exemplo, trouxe de uma feira este cesto feito com folhas de revista para pôr os rebuçados no balcão da loja. Assim, mostro às crianças que o papel usado pode ter grande utilidade”. Os conselhos que dá aos clientes conferem-lhe a fama de “não querer vender”. Tudo porque chama a atenção para a vantagem de usarem os materiais até ao fim e aproveitarem os livros escolares dos irmãos. Mais: até ensina formas de reaproveitamento: “Quando os lápis já estão muito pequenos, pode tirar-se a mina e usá-la para o compasso. Tudo se transforma”.

Quando Margarida vai a casa de amigos que não separam o lixo já lhe faz “muita impressão”. “Como é que conseguem ver arroz misturado com papel?”, Interroga. Com um ecoponto muito perto de casa, reconhece que não precisa de lá ir todos os dias. Tem também o cuidado de separar pilhas, cápsulas de café e guarda o óleo para colocá-lo no oleão que tem perto da sua casa em Salvaterra. “Nunca é tarde para começar”, reconhece, e alerta: “Se não formos nós, os mais velhos, a zelar pelo planeta a pensar no futuro dos nossos filhos e netos, como vai ser?”.

 

Pela (nossa) natureza

 

O bom hábito da separação de resíduos não escolhe sexo nem idade. André Batalha, com apenas 28 anos, lembra-se de, ainda em criança, ter alertado a família para esta questão. “Uma professora ensinou-nos que a Ericeira era pioneira na reciclagem e fiquei impressionado. Levei o assunto para casa e convenci mesmo os meus pais. Eles renderam-se”. A trabalhar na área do turismo, prestes a mudar-se para a sua própria casa, nem põe em questão continuar com esse hábito: “Sinceramente, não sei bem qual é o grau de eficácia desta minha atitude, mas acho que é um pouco como plantar uma árvore: se podes fazê-lo, por que não o fazes?”. Assume-se mesmo como “minucioso” e exemplifica que tem o cuidado de retirar o rótulo de papel das embalagens de iogurte para fazer uma separação mais eficiente. “Não sei se é ridículo, porque depois vêm pessoas que misturam tudo no contentor, mas temos que fazer a nossa parte”, argumenta.

O grande respeito pela natureza é o principal motor da sua motivação. Pratica surf desde os 13 anos e foi no oceano que iniciou uma verdadeira “relação de amor” com o ambiente. “Talvez seja por a natureza ter-me tocado tanto que eu tente sempre retribuir, mesmo que através destas formas tão simples”. Com a Surfrider Foundation Ericeira, organização sem fins lucrativos que promove a protecção do ambiente local, participa como voluntário na limpeza das praias da Ericeira e aproveita esses momentos para sensibilizar os outros para as questões ligadas ao lixo e ao consumo. “A par de reciclar, não nos podemos esquecer do mais importante, quanto a mim, que é reduzir. Estamos tão focados em mais um telemóvel, em mais uma televisão, que já não damos valor ao que já não nos serve. Assim, como percebemos a importância da reciclagem?”. E termina: “As pessoas não percebem que ao prejudicar a natureza, estão a prejudicar-se a si mesmas”.

  

Nome: Filipa Fortunato

Idade: 38 anos

Profissão: Formadora na área da comunicação emocional, empresária e mentora dos projectos Era uma Vez (www.era-uma-vez.com) e Recoopera (www.recoopera.com)

Motivação para a reciclagem: “As pessoas – com elas e por elas!”

 

Nome: Margarida Perlouro

Idade: 56 anos

Profissão: Comerciante, proprietária de uma papelaria na Parede

Motivação para a reciclagem: “É um dever cívico. Reciclo hoje para poupar o amanhã”

 

Nome: André Batalha

Idade: 28 anos

Profissão: Empregado de um hostel na Ericeira

Motivação para a reciclagem: “O amor e o respeito pela natureza”

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