Logo Sociedade Ponto Verde

A HORA DO LOBO-IBÉRICO
A hora do lobo-ibérico
2016-05-26
A hora do lobo-ibérico


Formosa e seguríssima, para lá da rede envolvente do cercado que serve de casa à sua alcateia, Tua vem pela verdura exibindo o seu farto e invernoso manto de pelo castanho-ocre. Na mira da objetiva fotográfica, a fêmea de oito anos e meio que, em dezembro de 2012, chegou ao Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI), no Gradil, em Mafra, proveniente de um jardim zoológico do Sul de Inglaterra, mantém-se indiferente aos disparos da câmara, para gáudio da equipa de reportagem, que, no seu primeiro encontro “ao vivo” com um lobo, tem o privilégio de se deparar com um dos habitantes do CRLI “mais fáceis de observar”, como nota Sara Loureiro, a bióloga que conduz a visita guiada pelos 17 hectares do Centro, “santuário” de 16 lobos.

Saboreando o breve indulto do sol, depois de um dia castigado pela chuva – rodeada por Sabor, o seu companheiro, de 13 anos e meio, e por Regoufe, Nogueira e Gerês, os três filhos de ambos, que ainda não completaram dois anos de idade –, a loba batizada com nome de um rio da Terra Quente Transmontana encarna, mesmo sem o saber, na sua serenidade imperturbável, a mensagem que o presidente do Grupo Lobo nos transmitira minutos antes. “Devemos deixar cair os mitos que, de geração em geração, se foram escutando sobre os lobos: eles não são maus, não andam sempre ferozes, não constituem um perigo para o homem.”

 


Homem e lobo em harmonia

 

Nas palavras de Francisco Petrucci-Fonseca, hasteia-se aquela que é uma das principais bandeiras do Grupo Lobo, a par da promoção da atividade científica de investigação sobre esta espécie: a da educação ambiental e para a cidadania, esteio para a “construção de uma relação mais harmónica entre o homem e o lobo”. “Poucos animais inspiram tanto receio por parte das populações como este, mas é fundamental que deixemos de o encarar como um vilão, para que possamos conhecer verdadeiramente esta espécie”, remata, sublinhando a importância das ações de divulgação, informação e sensibilização da sociedade civil, nomeadamente no que concerne às faixas etárias mais jovens, graças ao trabalho desenvolvido junto das escolas.

 

Esse trabalho de fundo para proporcionar a mudança de mentalidades é, por sua vez, condição “imperativa para a preservação do lobo-ibérico”, acrescenta o também biólogo, frisando que “só cidadãos mais informados poderão respeitar e defender as demais espécies, alterando a sua relação com a Natureza”. Afinal, foi o “profundo impacto do homem sobre os ecossistemas” a principal causa para o declínio da população de Canis lupus signatus em Portugal. Uma subespécie do lobo cinzento “que no princípio do século XX tinha uma distribuição por todo o território português, de norte a sul, e a partir de meados da década de 80 ficaria limitada à Zona Norte do rio Douro”.


Atualmente estima-se que no nosso país restem em liberdade, na Natureza, cerca de 300 lobos. Francisco Petrucci-Fonseca perspetiva, no entanto, que o futuro permita fazer novas contas à tendência de depredação desta subespécie verificada até aqui. “Não só em Portugal e na Península Ibérica, como também em toda a Europa, está a assistir-se à recuperação desta espécie, como de outras, nomeadamente em zonas interiores abandonadas pelos humanos, que se mantêm em êxodo para os grandes centros urbanos”, esclarece. Este fenómeno de repopulação natural ajuda a explicar que, ao contrário, por exemplo, do que acontece com o lince-ibérico, “não faça sentido falar em programas de reintrodução de indivíduos nascidos em cativeiro na Natureza. Muito por conta também do esforço de educação e sensibilização que tem sido levado a cabo, os lobos-ibéricos que estão em liberdade têm vindo, nos últimos anos, a reocupar, de uma forma natural, áreas de onde tinham sido extintos, pelo que não se justifica a intervenção humana a esse nível”.

 

 

Contribuir para a sobrevivência da causa

 

Para poder manter viva a missão de defender a conservação do lobo-ibérico e do seu ecossistema em Portugal, o Grupo Lobo, enquanto associação não governamental sem fins lucrativos, “depende, em larga medida, do apoio da sociedade civil”, admite Francisco Petrucci-Fonseca. Ainda muito recentemente, já em 2015, foi com a ajuda angariada através da campanha Não Deixe os Lobos sem Abrigo que se reuniram os fundos necessários para a compra dos terrenos, no Gradil, que o CRLI ocupava desde a sua criação, em 1987. Quem quiser juntar-se e contribuir para manter esta causa pode fazê-lo de várias formas:


• Efetuando donativos, que serão aplicados nos diferentes projetos desenvolvidos pelo Grupo Lobo;
• Ligando para a linha telefónica solidária 760 450 044;
• Tornando-se sócio;
• Adotando simbolicamente um dos lobos residentes no CRLI;
• Visitando o CRLI: com condições especiais para
visitas de estudo de escolas;
• Aderir ao programa de voluntariado que permite a participação nas atividades diárias do Centro.

 

Mais informações em http://lobo.fc.ul.pt.
 

DESCUBRA AINDA