Logo Sociedade Ponto Verde

PRANCHAS SUSTENTÁVEIS
Pranchas Sustentáveis
2015-06-19
Pranchas Sustentáveis

Pranchas Sustentáveis


As primeiras pranchas, feitas por havaianos, eram produzidas com madeira proveniente de árvores típicas das ilhas do Pacífico. 

Hoje, como que num flashback, várias marcas apostam em matérias-primas sustentáveis para criar as pranchas com que se praticam desportos ligados à Natureza.

 

Recuamos a 2013 e embarcamos rumo ao Brasil. Na Cidade Maravilhosa, mais conhecida por Rio de Janeiro, Ricardo Miguel Marques estava a escrever a sua tese de mestrado do curso de Engenharia do Ambiente, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Como no Rio quase todos os caminhos vão dar à praia, foi lá que Ricardo viu um surfista a carregar uma prancha que lhe pareceu ser de cortiça. Viria a descobrir que a prancha era, afinal, apenas pintada, mas a ideia de construir uma prancha em cortiça ficou-lhe na cabeça. 

 

Conhecendo algumas das características da cortiça, Ricardo dedicou-se a aprofundar os estudos e a delinear um projeto para poder avançar com as pranchas. Não admira, por isso, que quando regressou a Portugal já soubesse quais os materiais necessários para iniciar o projeto, qual o tipo de pranchas que queria e quais as empresas que deveria contactar para tentar passar da teoria à prática. O tão desejado “sim” foi-lhe dado pelo JPS Cork Group, parceiro incontornável para os variados testes que resultaram no nascimento da Bio Boards. 

 

“Bio Boards, Surf-Skate, Art & Sustentability é o slogan da nossa empresa”, começa por dizer Ricardo Marques, apresentando a sua equipa como extremamente motivada pela crescente consciencialização das questões ambientais e pela necessidade de as pessoas se diferenciarem. “Associamo-nos à sustentabilidade porque os skates e as pranchas são produzidos com o mínimo impacto ambiental e com o máximo de componentes reciclados, reutilizáveis e biodegradáveis. 

 

A cortiça utilizada provém de um aglomerado de rolhas de cortiça recicladas e não existe qualquer tipo de tratamento químico associado à construção dos produtos. A associação à arte advém do facto de todas as peças terem uma componente artística e personalizável, podendo o cliente escolher as cores, formas e tamanho”, completa o mentor das Bio Boards. 

 

Falta, obviamente, perceber o porquê da utilização do termo ‘surf-skate’ e isso acontece porque estamos a falar de pranchas constituídas por três rodas – duas atrás e uma à frente –, o que permite uma sensação e um treino para o surf muito realista. Produzidas manualmente, as Bio Boards são altamente resistentes à água e aos impactos e, tendo em conta que a cortiça permite a aderência necessária, dispensam a utilização de lixa na zona de colocação dos pés. 

 

Ricardo acredita que a Bio Boards é o resultado da influência do meio onde vive, no qual a praia, o surf e o skate foram atividades que estiveram sempre muito presentes. “E, claro, a formação em engenharia é uma mais-valia no que diz respeito à capacidade de raciocínio e metodologia”, atira, revelando, em seguida, que novidades podemos esperar em breve: aos três tipos de skates – Bio Babe, Bio Fun e Bio Top Gun – e ao acessório Paddle (espécie de remo que ajuda a dar balanço), juntar-se-ão em breve as pranchas de surf (já em fase de construção), as pranchas de sup balance boards e uma linha de roupa (já disponível) e acessórios com cortiça.

 

 

No mundo da cortiça

 

Ao conversarmos com Ricardo, torna-se impossível não pensarmos noutros projetos que juntam a cortiça aos chamados desportos radicais. O projeto Surf na Serra do Caldeirão, desenvolvido pelos alunos do curso profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva, da Escola Secundária José Belchior Viegas, de São Brás de Alportel, é um dos que nos bate à porta da memória, até por terem sido vencedores na categoria Iniciativa Jovem da 7.ª Edição do Green Project Awards. 

 

Tudo começou em dezembro de 2013, depois de uma visita de estudo às instalações de uma fábrica de pranchas de surf na vila de São Brás de Alportel, no Algarve. Nessa altura, os alunos perceberam que o surf não tem a pegada ecológica mais correta em virtude de estar dependente dos derivados de petróleo para a construção das pranchas. Ora, sendo esta vila algarvia conhecida por produzir cortiça de alta qualidade, os jovens tiveram a ideia de construir uma prancha de surf através da reutilização de um produto autóctone, a cortiça, neste caso transformada em rolhas. A portuguesa Ferox Surfboards associou-se ao projeto e são grandes a expectativas relativamente ao futuro destas pranchas. 

 

Mais avançado está o projeto de dois jovens espanhóis da região de Múrcia. Batizada de Richpeoplethings (“coisas de gente rica”, numa clara alusão à riqueza interior das pessoas), esta ideia foi posta em prática através da recolha de rolhas que foram sendo doadas por uma rede de voluntários. Após serem separadas por tamanho e colocadas na forma correta, essas rolhas foram fixadas com cera de abelha e resina de pinheiro, materiais com muito menos impacto do que os normalmente utilizados. O resultado foi uma prancha belíssima em termos estéticos e capaz de permitir aos surfistas uma fantástica comunhão com as ondas. 

 

Mas Ángel e Gloria Arnal não se ficaram por aqui e lançaram o movimento Connecting the Corks (qualquer coisa como “recolhendo as rolhas”), de forma a poderem colaborar com ONGs que utilizam o surf como forma de terapia ocupacional. E porque nem todos surfamos da mesma maneira, vale a pena dar uma espreitadela à proposta da Ahua. Aqui fazem-se pranchas de mão (handplanes) utilizadas no body surf. O divertimento é garantido e o respeito pelo planeta também, pois estas pequenas pranchas de cortiça têm uma ótima resistência à água salgada, dispensando, assim, a utilização de vernizes na sua conceção.

 

 

Segredos artesanais

 

“Por enquanto vou plantá-los em terrenos próprios, mas a ideia é realizar uma parceria com a autarquia, no sentido de fornecerem locais públicos onde se possam plantar os sobreiros, com a contrapartida de que, no futuro, o dinheiro gerado pela apanha da cortiça seja sempre aplicado em projetos de cariz ambiental ou social.” Do body surf passámos para o bodyboard, e o nosso interlocutor é agora Fernando Simões, mentor do projeto DoDo Cork Boards, que quer plantar um sobreiro por cada prancha vendida. 

 

“A ideia de criar pranchas de bodyboard com cortiça apareceu há cerca de cinco anos, pois de alguma forma senti necessidade de ter pranchas mais amigas do ambiente. Consegui projetar e executar uma prancha com o melhor dos dois mundos, com a redução de derivados e petróleo (plástico, mais exatamente o polietileno e o polipropileno) através da incorporação de cortiça, sempre certificada. 

 

O projeto visa essencialmente a redução da pegada ecológica deste tipo de equipamentos através da incorporação de matérias- -primas naturais e recicláveis. A própria composição da prancha foi feita de modo a poder ser reciclada para a produção de outros produtos”, completa Fernando Simões, que levanta o véu sobre os próximos passos da DoDo: dar nova vida a pranchas de surf velhas. Nova vida foi o que ganhou uma carpintaria que estava desativada, em Ovar.

 

 João Silva, um jovem arquiteto apaixonado pelo surf e pelo skate, viu naquele espaço o local perfeito para criar as suas pranchas de madeira totalmente artesanais. “Sou um apaixonado por madeira e por todo o trabalho criado a partir desta matéria-prima, e por isso decidi construir estes skates em madeira e não em contraplacado, como a grande maioria dos skates existentes no mercado. Aliado a isto decidi criá-los com design retro inspirado na década de 60, ou seja, na época dourada do surf e dos primeiros skateboards. 

 

A R!SKA pretende assim criar modelos de skates 100% artesanais, únicos e de séries limitadas”, explica João Silva, sublinhando que desde o início do projeto que a equipa da R!SKA teve a preocupação de desenvolver os produtos da forma mais sustentável e ecológica possível. “Como praticante de surf e amante da Natureza, sempre tive esta preocupação. Os nossos skates são produzidos com materiais recicláveis e durante todo o processo de fabrico temos especial atenção em utilizar produtos ecológicos e em criar o menos possível de desperdícios, os quais, quando existentes, são reaproveitados para criar outros produtos da marca.”

 

 

Moda e qualquer coisa mais

 

Celsus tem um percurso nacional e internacional de 12 anos ligado às passerelles, mas, curiosamente, muitos portugueses ouviram o seu nome a propósito da criação de uma prancha ecológica. “A ideia surgiu a partir do conceito de ‘vestir’ pranchas, conferindo uma estética única a um produto essencialmente branco”, recorda o estilista. 

 

O contacto com a Amorim CorK Composites possibilitou a colocação de cortiça, dando a conhecer o produto Corecork e tendo como principal objetivo promover o produto nacional através da cortiça, do design e da moda. “Para quem não sabe, Portugal é o maior produtor mundial de cortiça, e, assim sendo, esta imagem faz parte da nossa identidade. A cortiça, para além de oferecer uma nova estética ao produto, confere maior resistência à prancha e contribui para a absorção da trepidação causada pelas ondas na prática do surf.” 

 

Para além da cortiça, material completamente natural, renovável e biodegradável, o uso do EPS no núcleo, da resina ecológica e do aproveitamento de bambu para as quilhas fazem desta uma prancha ecológica com um acabamento manual, cuidado e personalizado. “Todo o material ecológico que compõe a prancha é mais caro do que o normal, mas temos ‘obrigação’ de zelar pelo nosso ecossistema e de ter uma preocupação ambiental presente no nosso trabalho. Se transmitirmos isso e se tivermos presente esta consciencialização, acho que poderemos contribuir para um mundo melhor”, afirma Celsus.

 

 

DESCUBRA AINDA