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NO CASO DOS MEUS ANIMAIS FORAM ELES QUE ME ESCOLHERAM
No caso dos meus animais foram eles que me escolheram
2014-09-18
No caso dos meus animais foram eles que me escolheram

Recentemente participante activa na campanha de adopção da Casa dos Animais de Lisboa, numa parceria com a LISB/ON #Jardim Sonoro, evento de música que se realiza na capital nos dias 6 e 7 de Setembro, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, para a sensibilização para a adopção de animais e contra o seu abandono, Jessica Athayde não tem qualquer dúvida sobre os assuntos que a tiram do sério: maus-tratos e abandono de animais, violência doméstica e falta de civismo ambiental.

Disse um dia que “se a minha casa estivesse a arder, a primeira coisa que salvava seriam os meus cães”.

Fale-me um pouco desses cães e conte-me como nasceu essa paixão por eles?
Cresci com gatos, mas quando fui viver sozinha, depois de passar uma vida inteira a querer um cão – a minha mãe não me deixava ter porque vivíamos num apartamento e tínhamos gatos –, uma das primeiras coisas que fiz foi ter um cão. 

E qual foi o primeiro animal que teve? Gatos. Tivemos sempre dois, um casal. 

Qual o momento mais marcante com eles de que se recorda? Provavelmente o facto de os termos trazido de Inglaterra para Portugal quando mudei de vida. 

Os animais que teve foram oferecidos, adoptados ou adquiridos? Os gatos foram sempre adoptados, foram sempre gatos rafeiros. O primeiro cão que tive, comprei. Na altura, confesso, não tinha grande conhecimento do que se passava em relação à adopção de animais. Há uns anos não sabia o que sei hoje.  Os outros foram dados.

E acha que faz sentido comprar animais nos dias que correm? Não. Temos tantos que precisam de casa e os canis estão cheios de cães, inclusive de raça... Mesmo quem queira um cão específico, como um Boxer ou um Golden Retriever, por exemplo, se for à Casa dos Animais, em Lisboa, ou a outro abrigo, vai encontrar lá, com certeza, porque as pessoas estão a abandonar os animais.

Como escolhe os seus animais de estimação? Não sei. No caso dos meus, foram eles que me escolheram. Já o Boxer, o Júlio [que o criador da ninhada não conseguiu vender por ter o maxilar torto, um olho azul e outro castanho e um sopro no coração], foi-me dado. Nas primeiras horas, mantive-me um bocadinho contra a situação, por achar que era uma responsabilidade enorme, mas depois ele cativou-me.

Apesar das inúmeras campanhas, são muitos os animais abandonados no Verão ou mesmo no Natal, onde os animais oferecidos são devolvidos ou abandonados. O que é que é necessário fazer para impedir isso? Sinceramente, nem sei se já passa só por as pessoas abandonarem os animais no Verão e no Natal. Acho é que se consegue fazer maior campanha nessas alturas. As pessoas abandonam os animais o ano inteiro. O país está completamente descontrolado, portanto os animais não são uma prioridade em casa para famílias que têm filhos. Os cães precisam de comida, de idas ao veterinário, ficam doentes e não são prioritários para muitas famílias. Para a minha, são.

Acha que a criminalização de maus-tratos aos animais de companhia vai pôr termo ao abandono? Espero que sim. A verdade é que esta lei joga a nosso favor e joga contra, porque o abandono de animais irá provavelmente aumentar. Mas quase que prefiro que os cães estejam num canil, preparados para receber uma casa nova, do que numa casa onde são vítimas de maus-tratos. Todos temos conhecimento de actos horríveis, praticados de forma gratuita, e acho muito bem que esses actos sejam punidos. Ainda bem que saiu essa lei!

Na sua opinião, como se combate o abandono e os maus-tratos aos animais?
Acho que passa muito por reeducar as gerações mais novas. Parte da responsabilidade de todos fazer esta divulgação. Cabe às figuras públicas, aos jornalistas, aos media, etc., dar a conhecer este problema e educar as gerações que vêm depois. Nem todos terão esta sensibilidade, mas há muitos que, apesar de não terem sensibilidade, têm bom senso. Venho de uma família que sempre adorou animais. Há pessoas que não os adoram, mas daí a maltratá-los… Há dez anos, se me perguntassem qual era a diferença entre comprar e adoptar um animal de estimação, eu era ignorante em relação a isso. Hoje em dia não faz sentido absolutamente nenhum, para mim, comprar um cão quando há milhares de cães a precisar de casa.

Participou na campanha de adopção da Casa dos Animais de Lisboa, em parceria com a LISB/ON #Jardim Sonoro. Como classifica essa experiência? Foi engraçada. Sempre que posso, adiro a estas causas. Acho que posso ajudar a dar visibilidade, e são
causas que precisam. Neste caso, tive o Júlio lá também, que veio muito vaidoso com toda a atenção que lhe foi dada. 

E foram muitos os animais adoptados? Sim. A visibilidade tem sido boa e sei que tem correspondido bem. Mas há muitos animais abandonados. De qualquer forma, o projecto está a ajudar a passar a palavra, e isso é o mais importante. As pessoas têm curiosidade e vão ver. Já começam a considerar adoptar um cão em vez de o comprar a um criador, por exemplo.

Que conselhos dá a quem queira um animal de estimação? É preciso ter noção de que é uma grande responsabilidade, que é para fazer parte da família, que os cães e os outros animais ficam doentes, que têm necessidades e que não dá para ter um cão e achar que ele vai ficar em casa e que é só preciso atirar-lhe a bola de vez em quando. É um elemento da família. O Júlio é o meu filho.

Como actriz, consegue ver-se no papel de alguém que maltrata os animais? Nunca tentei, mas, como actriz, se tiver de criar essa personagem, com certeza que iria ser um papel altamente frágil para mim. Sou precisamente o oposto...

As novelas deveriam ser usadas para alertar consciências? Já estamos a percorrer um caminho em que não falta muito para isso acontecer. Neste momento estou a fazer uma telenovela que já começa a alertar para várias situações.

Em Mulheres, interpreta uma mulher que é vítima de violência doméstica, o papel mais complicado que
lhe foi dado até hoje. Onde vai buscar a inspiração? A personagem foi pensada juntamente com a APAV. Fiz leituras, li depoimentos. Fiz a construção da personagem com o meu “agressor”, neste caso o actor Luís Gaspar.

O que mudou na sua forma de olhar para as vítimas de violência doméstica? Mudou tudo. Tenho uma compreensão totalmente diferente. E muito respeito!

O que falta fazer nesta área para tornar o mundo melhor? Não é nada fácil esta resposta... O facto de estar a fazer esta novela e de haver indicações de como as mulheres se podem ajudar tem sido já uma boa divulgação para a Linha de Apoio à Vítima. Há também cenas com uma advogada que explicam os direitos. Creio que isso já está a ajudar bastante.

Já que falamos de um mundo melhor, há necessariamente que se falar de ambiente. Como contribui para um melhor ambiente? Reciclo, tento andar de bicicleta e largar o carro, tento
comprar produtos biodegradáveis, produtos biológicos...

Tem algum hábito pouco amigo do ambiente que queira mudar mas ainda não conseguiu?
Os banhos de imersão.

Sei que faz mergulho. De onde vem essa paixão? Onde costuma mergulhar?
Para matar saudades, em Sesimbra. De resto, viajo. 

De que mergulho guarda as melhores recordações? Maldivas! É sempre bom nadar em águas quentes. Têm uma visibilidade espectacular. Vi dezenas de tubarões, vi milhares de espécies de peixes. Foi dos melhores mergulhos que já fiz.

Acredita que as campanhas de sensibilização para o ambiente têm tido eco nos oceanos?
Infelizmente, acho que não. Acho que as pessoas têm de ser mais educadas em relação a esta questão. Ainda atiram garrafas de cerveja, pontas de cigarros ou tudo o que for para o mar. Não há um mínimo de preocupação. Nos mergulhos, felizmente, tenho notado alguma diferença. Ainda há pouco tempo foi feito um mergulho em Cascais para ajudar a limpar a baía. Pelas fotografias que vi, percebi que o fundo do mar está cheio de porcarias que as pessoas deixam. Parece-me que as pessoas não têm a mínima noção das consequências do que fazem e sem dúvida que deveria haver uma aposta maior na divulgação.

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