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BEM VIRTUAL
Bem virtual
2010-11-01
Bem virtual

A internet afasta-nos cada vez mais do contacto real com os outros, mas é também uma ferramenta poderosa no combate às desigualdades sociais e ameaças ambientais, através das redes sociais.

Sim, estar online pode ajudar o mundo.

 

Comprar, vender ou trocar produtos, partilhar contactos e experiências de trabalho, apresentar estratégias e oportunidades de negócio ou até lançar petições para ajudar doentes com leucemia, órfãos em países em vias de desenvolvimento ou impedir os touros de morte em Portugal. Estes são apenas alguns exemplos dos fins que se dão actualmente às redes sociais na Web. Portugal, entre os países europeus, aparece em terceiro lugar na sua utilização. A liderar a tabela está o Reino Unido e a Espanha, refere um relatório da comScore, que revela ainda que, no nosso país, 72,9% dos utilizadores de internet com mais de 15 anos e que acedem ao computador a partir de casa, visitaram, em Dezembro de 2008, um destes sites. O Hi5 foi então o líder destacado ao ser responsável por 87% do tempo total dedicado a estas redes, mas os portugueses têm aderido a outras, como Facebook, Twitter, MySpace, Orkut, e Linkedin. São as redes consagradas à partilha de experiências pessoais e profissionais que prevalecem, mas aquelas que se dedicam a causas sociais e ambientais têm vindo a ganhar maior número de adeptos. Afinal, o que custa ajudar o planeta à distância de um clic?

 

MICRO-CRÉDITO MUDA VIDAS

O www.kiva.org, classificado pela revista Time como um dos sites mais popular do momento, já ajudou cerca 200.000 pessoas em 48 países a melhorar as condições de vida graças ao uso de apenas duas ferramentas: um computador e um cartão de crédito. O projecto é da responsabilidade dos norte-americanos Matt e Jessica Flannery que, interessados em desenvolver laços com o continente africano (Jessica trabalhou lá alguns meses), chegou às seguintes conclusões: no chamado terceiro mundo os mais pobres têm forte espírito empreendedor e são excelentes pagadores no âmbito do micro-crédito; as histórias de superação pessoal despertam o envolvimento de potenciais investidores; com recurso à internet é possível multiplicar exponencialmente o número de financiadores individuais.

O Kiva é também popular porque o seu modus operandi é muito simples. Tal como no Facebook, os empresários interessados em contrair empréstimo inscrevem o seu perfil na página da Internet, com fotos e dados pessoais, descrevem o seu negócio, a quantia que precisam para o concretizar e em quanto tempo a poderão pagar. Os potenciais financiadores escolhem os perfis que mais lhes agradam. Cada um pode emprestar o total pedido pelo empresário ou apenas uma parte (no mínimo 25 dólares), que será complementada por outros beneméritos. O dinheiro é inicialmente transferido para os fundos do Kiva que, por sua vez, o envia para uma instituição de microfinanças do país mutuário. No prazo estabelecido para o pagamento do empréstimo os credores recebem o montante de volta, sem juros nem correcção monetária. Idealmente o financiador reemprestará o seu dinheiro após reembolso, gerando-se assim um círculo virtuoso.

 

MENINAS INSTRUÍDAS, UM MUNDO MELHOR

A Girl Effect (www.girleffect.org), rede organizada pela Nike Foundation para financiar projectos de apoio a raparigas desfavorecidas (estimadas em 600 milhões em todo o mundo), aposta sobretudo na escolarização e implementação de pequenos negócios. Segundo o World Bank, organização presta apoio técnico e financeiro a países em vias de desenvolvimento, por cada ano escolar extra que frequente, uma jovem pode ver o seu salário crescer entre 10 e 20%. E também terá melhores condições para cuidar dos seus filhos e familiares. Por outro lado, as mulheres são uma força económica por explorar. Excluí-las do mercado de trabalho implica enormes perdas para o PIB de qualquer país. A título de exemplo: o Quénia ganharia 27 mil milhões anualmente, caso as suas estudantes concluíssem o secundário ou a universidade, e o Brasil perde 17,3 mil milhões por ano devido à taxa de desemprego entre as jovens, de acordo com dados disponíveis em www.girleffect.org. Como participar? Apoiando financeiramente a Girl Effect, divulgando vídeos, comunicados e campanhas do mesmo site através do facebook, twitter e por e-mail, de forma a sensibilizar potenciais financiadores. Muitas vidas já mudaram graças ao apoio Girl Effect. Juthika, do Bangladesh, cria patos e borda lenços, o que lhe permite financiar os seus estudos e os do irmão; a indiana Anita Kumari iniciou o seu negócio aos 10 anos como apicultora, nunca desistindo da escola, fez greve de fome para escapar a um casamento prematuro e hoje dá formação a outras meninas; enquanto que a queniana Stephanie, após ter sido violada e ter engravidado, apoia jovens com experiências idênticas.

 

PARTILHAR É RECICLAR

O Freecycle Network (www.freecycle.org) permite oferecer o que já não nos serve ou solicitar aquilo de que mais necessitamos, evitando o desperdício e consumo desnecessário. Esta rede de partilha internacional, composta por mais de 4.500 grupos distribuídos por 85 países, não tem fins lucrativos e a inscrição online é gratuita. O Freecycle Network pretende apenas facilitar o tradicional sistema de trocas. Uma particularidade: a rede subdivide-se em pequenos clubes, associados a uma determinada cidade, pois a recolha e entrega dos bens é feita pessoalmente. Para evitar eventuais tentativas de comercialização de produtos, ou certificar a idoneidade das associações de apoio social participantes, por exemplo, cada grupo é moderado por voluntários que filtram, analisam e centralizam as mensagens, distribuindo-as pelas caixas postais electrónicas de todos os membros. 

A rede foi criada em 2003 quando o norte-americano Deron Beal, que trabalhava como voluntário numa pequena organização de reciclagem, percebeu que inúmeros bens, ainda em boas condições, estavam condenados ao lixo. Começou a distribui-los, de carrinha, pela população mais carenciada, mas a tarefa revelou-se dispendiosa e trabalhosa. Rapidamente encontrou uma forma mais fácil de o fazer: anunciando na internet. Resultado? Hoje a rede envolve mais de 65 mil membros e estima-se que mantenha 500 toneladas de materiais por dia fora de aterros. Em Portugal já opera em 13 cidades e, só em Lisboa, conta com mais de 5.000 membros.

 

SALVAR A FLORESTA É SALVAR O PLANETA

A Rainforest Action Network (http://ran.org), rede norte-americana fundada em 1985 para proteger as florestas tropicais, os seus habitantes e todos os ecossistemas ameaçados pela presença do Homem, organiza manifestações, invade conferências e embaraça grandes empresários em público – sem recurso à violência. É constituída por cerca de 40 activistas que até hoje mobilizaram milhões de pessoas por todo o mundo (60 países) e conseguiram retirar o direito de exploração de zonas florestais a grandes empresas. Cooperam com especialistas na área do ambiente para encontrarem soluções alternativas a energias poluentes como carvão e petróleo e mantêm diálogo estreito com os responsáveis das multinacionais mais poluentes.

Através do site – e porque todos podemos ser activistas – convidam as pessoas a envolverem-se na causa: salvar o planeta. Basta enviar um e-mail explicativo dos objectivos das acções que se pretendem desenvolver, que os voluntários da Rainforest Action Network ensinam, de acordo com a sua vasta experiência, a procurar financiamento, organizar convenções, manifestações e mobilizar multidões. O objectivo principal desta rede é favorecer a criação de grupos similares um pouco por todo o mundo, porque a pressão mediática funciona. Em 1987 boicotaram a cadeia Burger King, porque a carne que importava provinha de países tropicais, onde os pastos alastravam, provocando a desflorestação. Resultado: as vendas diminuíram 12% e a empresa cancelou um contrato de 35 milhões com a América Central, anunciando que deixaria de adquirir carne dessa região. Este ano a General Mills, que contribui para a matança de orangotangos entre outras espécies, devido à forma como explora a floresta para dela extrair óleo de palma, perante as pressões desta organização comprometeu-se publicamente a obter o mesmo produto através de meios 100% sustentáveis. Tudo através do poder das redes sociais.

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