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NO ESCONDER ESTÁ O GANHO
No esconder está o ganho
2014-09-17
No esconder está o ganho

A ideia de desenvolver um carregador sem fios para carros eléctricos surgiu no âmbito do projecto CityCar, de um grupo de investigação do MIT Media Lab, onde Vasco Portugal estava a trabalhar.


Esse projecto incidia na criação de um carro eléctrico essencialmente desenvolvido para circular nas
cidades, com uma ocupação de dois lugares e ultracompacto (vai ser introduzido no mercado no próximo ano com o preçobase de cerca de 12 mil euros e com o nome de HIRIKO, por uma empresa basca que fabrica peças de automóveis para várias marcas). A proximidade com este projecto e a problemática dos sistemas de carregamento para carros eléctricos fizeram com que o investigador português e Jason Gao (aluno de Computer Science do MIT) acabassem por se interessar por explorar alternativas para o modelo do CityCar.

E o que começou por ser um projecto paralelo tornou-se, gradualmente, na linha de investigação de Vasco e de Jason. “O grupo interessou-se pelo projecto, financiou o desenvolvimento e mobilizou recursos e equipa necessária para que conseguíssemos ter um protótipo funcional e validar o conceito”, recorda o investigador, que defende que, devido à reduzida autonomia da generalidade dos veículos eléctricos, é indispensável existir uma rede estruturada e funcional de postos de carregamento para que a mobilidade eléctrica possa ser uma solução para os consumidores privados.

O que é isso de estacionamento automático?

“Partindo deste princípio e de que os carros eléctricos passam a ser o veículo de deslocação nas cidades, procurámos desenvolver uma solução que fosse fisicamente diferente dos postos de abastecimento actuais”, explica Vasco Portugal. “Uma solução que fizesse parte da estrutura da própria cidade e que permitisse uma total disseminação, de forma a que o condutor não tenha que circular à procura de postos de abastecimento eléctrico disponíveis e que o acto de carregar seja reduzido ao simples acto de estacionar o carro.” 

Com esse objectivo em mente, os investigadores desenvolveram um sistema que está incorporado no próprio lancil do passeio. Não existem caixas exteriores naquela que é uma clara alternativa à propagação de caixas de postos de carregamento, com todas as inconveniências tanto visuais como de mobilidade que lhe estão associadas. “Além disso, apostámos no conforto do utilizador.
Sabendo que o sistema de estacionamento automático já é uma realidade do presente, para nós faz sentido que seja o carro a promover o contacto com o carregador e não o condutor a ter que sair do carro, pegar no cabo e fazer a ligação ao carregador”, revela Vasco. E como umas ideias conduzem a outras, está projectada a possibilidade de incorporar um sistema de V2G (vehicle to grid), onde o veículo fica a carregar nas horas de menor consumo e tem a possibilidade de vender à rede nas horas de pico de consumo, funcionando como um género de backup da rede.


“É uma forma de reduzir os custos de carregamento ou de adquirir crédito para futuros carregamentos.” O desenvolvimento e financiamento do projecto está, agora, a cargo do grupo de investigação do CityCar. Entretanto, Vasco Portugal está de regresso a Portugal, onde, entre outros projectos, dirige o LINNK – Lisbon Innovation Kluster (www.linnk.us), que visa recriar o ecossistema que proporciona inovação e que o investigador encontrou no Media Lab. E confessa que ambiciona envolver-se no desenvolvimento de uma proposta de estratégia de integração de mobilidade eléctrica em Lisboa. “Existe tanto para desenvolver nesta área, e, neste ponto, as start-ups tecnológicas nacionais podem ter um papel importantíssimo”, sublinha.

 

Falemos do futuro
Entre os entraves à implementação dos veículos eléctricos e o desejo de vê-los com mais protagonismo nas nossas estradas.

“Actualmente, em Portugal ainda não existem as condições ideais para que um consumidor privado possa tomar a decisão de adquirir um veículo eléctrico sem sentir que vai ter de adaptar a sua
vida a esta condição”, atira Vasco Portugal, completando a afirmação com a ideia de que, para que o automóvel eléctrico possa ser percepcionado como um investimento aceitável pela generalidade das pessoas, é necessário que a rede de postos de carregamento permita que o condutor faça a deslocação sem ter que planear, antecipadamente, as voltas que vai dar no caso de necessitar de carregar a bateria.
Esta estratégia é, na opinião do investigador, um dos três entraves à implementação dos veículos eléctricos. Os outros dois são o preço e a questão da autonomia. “Na minha perspectiva, nenhum deles é inultrapassável”, afirma. “Acredito que a chave para o sucesso da mobilidade eléctrica está dependente da diligência de intervenientes políticos e da indústria. Não se trata da velocidade de penetração no mercado dos veículos eléctricos, mas sim da estratégia de implementação e parcerias público-privadas em infra-estruturas. Devem criar-se condições favoráveis para facilitar a introdução dos veículos eléctricos através da integração de infra- estruturas nas cidades, da introdução de incentivos, educação e informação sobre a importância de encontrar novas formas de transporte individual, não só como forma de preservação do meio ambiente mas também como um potencial factor de crescimento económico nacional.”

 

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