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MANUAL DO VIAJANTE RESPONSÁVEL
Manual do Viajante Responsável
2011-06-01
Manual do Viajante Responsável

Os aviões e os carros consomem combustíveis fósseis, os hotéis produzem toneladas de lixo. 
Mesmo as caminhadas interferem com o ecossistema. 
Quando viajamos contribuímos para a diluição da cultura e degradação do ambiente dos locais que visitamos. 
Saiba como o evitar.

 

O turismo é um fenómeno crescente a nível mundial e ganha cada vez mais relevo em termos económicos, sociais e ambientais. Em 2005, 810 milhões de pessoas visitaram países estrangeiros, número que deverá duplicar antes de 2020, estima a Organização Mundial de Turismo (OMT). No entanto, esta actividade pode acarretar um conjunto de problemas que urge minimizar, entre os quais se destacam os impactes ambientais negativos e a perda da identidade local. Actualmente, as actividades ligadas ao turismo são já responsáveis por 5% das emissões globais de CO2, das quais cerca de 75% dizem respeito às deslocações, principalmente por via aérea. Por outro lado, o turismo tem contribuído para o aumento das desigualdades socioeconómicas entre os países mais desenvolvidos (os do Norte) e os mais pobres, normalmente os receptores (os do Sul). Porque o consumidor quando compra um pacote de férias não está a adquirir algo fisicamente palpável, mas sonhos e ilusões proporcionados por grandes operadores turísticos, concentrados em oferecer aos seus clientes um paraíso que a maioria nunca chega a conhecer. À custa muitas vezes de paisagens naturais únicas, que são transformadas em campos de golfe ou piscinas rodeadas de amplos relvados; dos salários abaixo da média dos profissionais ligados ao sector; da cultura e tradições locais vítimas de alterações para fins comerciais, mero folclore para turista ver.

Em 1992, declarações emanadas da Conferência do Rio, e ainda das políticas de integração do ambiente nos sectores-chave da economia, como as decorrentes do 5º Programa de Ambiente da União Europeia, “Em Direcção a um Desenvolvimento Sustentável”, deram, finalmente, origem ao conceito Turismo Sustentável. Este procura agregar a área económica do desenvolvimento turístico com a preservação dos recursos naturais e da inclusão das populações no processo de afirmação do destino.

As medidas deverão caber, sobretudo, aos grandes grupos económicos, já que será difícil a muitos países ditos em desenvolvimento resistir a propostas aliciantes, mas menos honestas. Não só pelas quantias envolvidas (segundo a OMT só em2003 aactividade movimentou mais de 500 milhões de dólares), mas também porque a curto prazo o turismo apresenta as suas vantagens: cria empregos e favorece o intercâmbio cultural.

A si, como viajante, cabe também assumir-se como consumidor responsável. Antes de partir deverá escolher devidamente o hotel ou eco-resort; investigar quais são as suas políticas ambientais e tentar saber qual o seu empenho em desenvolver a comunidade onde se implantaram. A título de exemplo: a andBeyond, empresa que detém 40 lodges de luxo em África e na Índia, ao instalar os seus espaços turísticos, intervém junto da comunidade local em áreas como saúde, educação, agricultura e ajuda humanitária. Até 2009, construiu mais de 140 salas de aula e 20 escolas prefabricadas, concedeu mais de 200 bolsas para estudantes em universidades e criou três hospitais, abertos 24 horas por dia, que servem 45 mil pessoas por ano.

Durante a viagem, se cada um se deslocar com o mínimo de embalagens deixará menos resíduos, particularmente difíceis de tratar em países em desenvolvimento. Pouca bagagem é aconselhada, embora seja sempre simpático levar alguns bens extra para ajudar projectos sociais e ambientais que poderá visitar. Mas existem mais formas de tornar mais ecológica a sua viagem: compre bens produzidos apenas no país que visita e contrate um guia local. Ele será a pessoa mais indicada para levá-lo a conhecer os costumes locais. Em última instância, a família dele será favorecida economicamente. Na altura de fazer compras tenha em atenção, no entanto, que muitas das peças à venda são obtidas a partir de espécies vegetais em extinção ou que implicam a morte, quase sempre ilegal, de animais. Por fim, tenha em conta que cada cultura tem o seu próprio conceito de tempo e tradições. Não desespere se falta água quente no hotel. Pare de fazer comparações com o conforto que tem em casa ou noutros locais da Europa, caso viaje por África, América Latina ou Ásia. Senão, o melhor é mesmo não se dar ao incómodo de atravessar oceanos e sofrer de jet-lag. Por outro lado, antes de entrar em locais sagrados pergunte-se tal é possível a estrangeiros. Em caso de dúvida, abstenha-se de experimentar.

Ao cumprir todas estas indicações certamente terá um contacto mais estreito com as comunidades locais. Mas existe ainda outro modo de viajar, que, além de defender o ambiente, zela pela manutenção do património cultural e social das sociedades com maior afluência de visitantes, recusando, por exemplo, a estadia dos viajantes em lugares estranhos às comunidades. Em Portugal é divulgado pela associação Mó de Vida (www.modevida.com), que, não sendo uma agência de viagens, organiza, em conjunto com outras associações internacionais (enquanto não existir massa crítica em Portugal), expedições em Portugal e a países como o Brasil e a Nicarágua. A nível internacional o site www.responsibletravel.com sugere e organiza viagens à medida – para família, desportistas radicais, reformados à procura de puro descanso – sempre cumprindo as regras de boa vizinhança global. Não prometem dias de luxo e ostentação em todas as viagens, mas o que faltará em mordomias sobrará com certeza em conhecimento.

 

Destinos Eco

 

Timor

Apontado como um dos últimos paraísos da Ásia, Timor, antiga colónia portuguesa, começa a abrir as portas ao turismo, mas devagarinho. Quem visitar Timor não espere encontrar facilidades ou o típico luxo asiático, mas sim a genuinidade de um lugar perdido no “fim do mundo”, onde tudo ainda está por acontecer.

Timor não possui boas estradas, redes de transportes públicos, campos de golfe, nem grandes resorts; “apenas” praias desertas banhadas por águas cálidas e paisagens tão distintas quanto as áreas montanhosas de Maubisse, Ermera e Ainaru; a savana de Lautém; as plantações de café e arroz de Bobonaro e Aileu, e a floresta tropical de Lore. A esta imensa riqueza natural soma-se um interessante património histórico e monumental, dominado pelas grutas pré-históricas pintadas provavelmente pelos aborígenes, e pela arquitectura colonial, uma das principais marcas da passagem dos portugueses pela ilha.

 

Nova Zelândia

A Nova Zelândia conquista os visitantes pela beleza esmagadora das paisagens que serviram de cenário à trilogia O Senhor dos Anéis. A 30 horas de viagem, precisamente nos antípodas de Portugal, este é sem dúvida o lugar perfeito para todos os que não dispensam o contacto com a natureza e a prática de desportos radicais. Eminentemente rural e parcamente habitada, diz-se a brincar que a Nova Zelândia tem mais ovelhas de que pessoas. A população vive da agricultura e do turismo, assente nas imensas riquezas naturais do país, onde as praias de areias brancas, a leste, competem na popularidade com os glaciares a apenas 15 km da costa oeste, e a rusticidade dos refúgios de montanha contrasta com o luxo dos lodges mais sofisticados.

 

Bazaruto, Moçambique

Nadar, em pleno Índico, na companhia de golfinhos, tartarugas e peixinhos coloridos. Ver o sol nascer no mar e pôr-se nas dunas após um dia morno que apetecia ser eterno. Procurar crocodilos, observar aves, passear a cavalo e perseguir baleias. Isto é só uma amostra do que se pode fazer em Bazaruto, a ilha maior que dá nome ao arquipélago composto, ainda, por Santa Carolina, Benguerra e Magaruque. Classificada como Parque Nacional e usufruindo de protecção especial pelas organizações World Wildlife Fund e Endangered Wildlife Trust, entre outras, Bazaruto oferece “apenas” uma paisagem de sonho em estado quase selvagem, habitada por pouco mais de seis centenas de nativos e com apenas dois resorts.

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