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PODER DE TRANSFORMAR
Poder de transformar
2013-11-26
Poder de transformar

Acabar com a inactividade e a falta de participação juvenil. Parece um objectivo ambicioso e difícil de alcançar, mas um grupo de jovens acredita que, afinal, a solução é muito simples. “Os jovens são inactivos, mas achamos que isso acontece não porque não queiram fazer, mas porque não chegamos a eles da maneira certa”, defende Diogo Silva, uma das muitas caras que dá vida ao Projecto Transformers. A forma encontrada por este movimento de voluntariado é muito fácil de explicar: “Fazer a diferença na sociedade através daquilo que mais nos apaixona”, resume Diogo. O objectivo é equipar os jovens com um talento, um “superpoder”, para usarem em prol do todo. Os mais novos tornam-se “Transformers” quando contribuem positivamente, fazendo aquilo de que mais gostam. Neste ano lectivo, os números falam por si. O projecto movimentará 70 mentores, a dinamizar 49 actividades diferentes, em 34 instituições, chegando a cerca de 600 jovens em Lisboa, Porto e Coimbra.

 

O processo

Miguel Lamas, coordenador de actividades da “tribo” de Lisboa, explica à RECICLA como tudo se processa. “As instituições interessadas em entrar no projecto podem candidatar-se durante o período por nós definido. Ao mesmo tempo, abrimos candidaturas também para os mentores. Junto das instituições escolhidas, começamos por perguntar aos miúdos – os “tkids” – o que é que eles mais gostavam de aprender. E, por fim, alocamos os mentores às respectivas actividades”. Durante nove meses, em sessões semanais, os “tkids” são assim equipados com um talento que muitos não sabiam ter. Os “superpoderes” ensinados passam por áreas muito diversas: futebol, surf, graffiti, culinária, fotografia, breakdance, teatro, geocaching, artes marciais…

Os mentores (e não professores, como gostam de distinguir) são uma peça chave no sucesso desta equação. “Têm de ter domínio técnico da actividade e sobretudo muita paixão. Precisam de ser criativos e pensar sempre de forma diferente. Cada um à sua maneira tem um q.b. de loucura e excentricidade”, descreve Joana Pereira, coordenadora de actividades em Lisboa. Diogo Silva acrescenta: “Ser mentor é um compromisso que exige tempo, cuidado e preparação. A óptica não pode ser: ‘Vou lá para ensinar futebol’. Mas sim: ‘Vou partilhar o que sei sobre futebol e explicar como esse desporto pode ser uma escola de vida. Vou passar os valores que estão por trás da actividade e perceber como é que com esse talento posso fazer toda a diferença na comunidade onde estou’”.

 

Talentos com retorno

Uma das originalidades do projecto prende-se com os chamados momentos de “payback”. Como explica Joana, “o objectivo não é os jovens aprenderem uma actividade, acabar o ano lectivo e irem-se embora”. Um “tkid” só se torna “Transformer” quando identifica um problema e encontra uma maneira original de pôr o seu talento ao serviço de uma possível solução. Miguel, Diogo e Joana lembram-se de inúmeros exemplos que os deixam orgulhosos. A pintura de um mural de graffiti em plena Casa Pia, com uma mensagem positiva a apelar para o não consumo de drogas; a organização de um dia de danças urbanas e aulas de skate num lar de idosos, combatendo o isolamento dos mais velhos; a remodelação do campo de basquetebol de rua onde tinham aulas, em Algueirão (Sintra), que assim voltou a ser usado por toda a comunidade. A grande ambição é que esta semente de intervenção floresça no percurso futuro destes jovens. Algumas histórias mostram que é possível. “O Jonathan, da primeira geração de “Transformers”, aprendeu connosco break dance, depois criou uma “crew” própria no seu bairro e agora é mentor”, conta Diogo. Miguel lembra-se de outro caso inspirador: “Um mentor de fotografia que saiu do projecto, abriu um estúdio e começou a dar aulas gratuitamente a outros jovens do bairro, como fazia no Transformers”.

 

Fora da caixa

Para a grande maioria dos mentores, a entrada no Projecto Transformers é a primeira experiência de voluntariado. Os mais jovens identificam-se com o tipo de estrutura e forma arrojada e inovadora de trabalhar do grupo. Sem hierarquias, nem burocracias ou formalidades, promovem o trabalho em rede. “No meio social muitas vezes criam-se ilhas, mas há a necessidade de estabelecer relações. Nunca vamos para o terreno sozinhos; vamos sempre em parceria com uma instituição. Cada vez que ganhamos um novo parceiro, acrescentamos forças ao que já somos”, resume Diogo, que actualmente assume a coordenação das áreas de administração e finanças. E conclui: “Temos atraído muita gente espectacular que partilha a nossa visão”.

O primeiro parceiro a acreditar no grupo inicial de apenas três jovens de 19 anos foi a Fundação EDP. Nestes quatro anos, a notoriedade do projecto tem crescido muito e já não têm mãos suficientes para tantos pedidos. “Agora são as instituições que nos procuram. Este ano tivemos de recusar várias, pois não temos financiamento suficiente”, revela Diogo Silva. A grande ambição futura é exactamente a sustentabilidade financeira do projecto e a continuação da sua expansão. Já estão no Porto e, este ano, começam em Coimbra. “Têm havido algumas dores de crescimento (risos). Queremos levar este projecto mais longe, mas temos de manter-nos fiéis às nossas origens, à nossa identidade”. Com tantos superpoderes reunidos, ninguém duvida que o conseguirão.

 

 

Diogo SiIva

Idade: 23 anos

Função: Coordenador da administração e finanças

Superpoder: Dinâmica de grupos

“No Transformers, acima de tudo, descobrimos quem somos. É um espaço onde partilhamos a mesma visão: acreditamos piamente que temos um superpoder e que basta isso para fazermos a diferença, para mudarmos o mundo à nossa volta”.

 

Joana Pereira

Idade: 22 anos

Função: Coordenadora de actividades

Superpoder: Boa disposição contagiante

“O Transformers tornou-me muito mais exigente. Agora já não me contento com qualquer coisa ou só com o que existe. Como resposta social, faz todo o sentido: activa as mentalidades de jovens que nem tinham ambições”.

 

Miguel Lamas

Idade: 22 anos

Função: Coordenador de actividades

Superpoder: Piano

“Com o Transformers comecei a acreditar que cada um de nós é uma espécie de peça de puzzle da sociedade. A maneira como nos encaixamos depende muito das oportunidades que temos. Este projecto é uma óptima maneira de potenciar as opções de cada um”.

 

Fotos: Filipe Pombo/AFFP

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