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1996-2016 DUAS DÉCADAS DE RECICLAGEM
1996-2016 Duas décadas de reciclagem
2017-01-27
1996-2016 Duas décadas de reciclagem

Separar e enviar corretamente as embalagens para reciclagem como parte da rotina diária de uma boa casa portuguesa. Isto como tarefa tão simples como ligar o rádio para ouvir música, ter um bom livro de cabeceira, ver a novela ou o filme depois do jantar. Integrar a reciclagem nos hábitos de cada cidadão – é neste sentido que a Sociedade Ponto Verde (SPV) trabalha desde a sua criação, em novembro de 1996.

 

Sabia que desde então foram encaminhadas para reciclagem mais de 6,8 milhões de toneladas de resíduos de embalagens, o equivalente ao peso de três Pontes Vasco da Gama? Durante este período foram investidos mais de 50 milhões de euros em ações de comunicação e sensibilização e 650 milhões de euros na recolha das embalagens separadas. E agora os números que provam que tudo isto compensa: atualmente, 7 em cada 10 lares portugueses fazem a separação das embalagens geradas, acreditando-se que nos próximos anos este valor continuará a aumentar.


De Figo à caixinha mágica  

Ainda se lembra onde estava em 1996? Nós damos uma ideia do que se passava no ano em que a SPV foi criada e começou a fazer história. Ele começara a jogar aos oito anos e nesse ano tinha apenas 11: formava-se o craque e agora herói nacional Cristiano Ronaldo. Podemos quase apostar que na altura não perdeu os jogos da Seleção portuguesa, mas ainda longe de ser seu capitão. Nesse ano foi Inglaterra a anfitriã do Euro, Portugal não passou dos quartos de final mas ninguém esquece os heróis da altura. Vítor Baía, Fernando Couto, Figo, Sá Pinto, Rui Costa.

 

As telenovelas Roseira Brava, Primeiro Amor e Vidas de Sal, da RTP, prendiam telespectadores ao pequeno ecrã, com atores veteranos como Simone de Oliveira, Armando Cortez e Mariana Rey Monteiro.

 

Os bonecos  também criticam

Na SIC estreava, em 1996, o programa Mundo VIP, dedicado ao jet set nacional e com apresentação de Felipa Garnel e Paulo Pires. Num registo jornalístico de investigação, esta estação apostava num formato que continua no ar 20 anos depois: a Grande Reportagem. Coordenado por Cândida Pinto, continua a convidar semanalmente para que viajemos “por cenários de guerra e de paz, de amor e de ódio”.

 

Foi na SIC que estreou, também em 1996, o Cara Chapada. Não atingindo o sucesso esperado, mudou de casa e de nome e passou a ser um dos programas mais populares da RTP: o Contra Informação prendeu os portugueses às cómicas marionetas com a sua crítica apurada.

 

Somos um povo musical e que gosta de ouvir cantar em português. A coletânea de êxitos O Caminho da Felicidade, dos Delfins, foi campeã de vendas no mercado nacional em 1996. Nesse mesmo ano, o grupo de Miguel Ângelo produziu a banda sonora do filme Adeus Pai, de Luís Filipe Rocha, e gravou o disco Saber Amar nos intervalos de uma digressão internacional que passou pelo Brasil, África do Sul e Suíça. Noutro registo, os Nocturnos de Chopin, por Maria João Pires, liderou o top de vendas entre 12 e 27 de novembro, data em que foi lançado o Tempo, de Pedro Abrunhosa. Entretanto, o país não via apenas a bola e a novela, também já começava a reciclar. No primeiro ano de atividade, a SPV reciclou 1500 toneladas de resíduos de embalagens. Nessa altura cobria 18,1% da população e 14,9% do território. 


Os primeiros passos  

A guia de transporte que acompanha os resíduos entre o sistema municipal e o reciclador, chegava inicialmente por fax. Iniciava-se aí uma troca documental entre todas as entidades envolvidas no processo. Antes de se avançar para um sistema online em 2001, em que tudo passa pelo mundo virtual e pela poupança de resmas de folhas. Por cada carga podiam arquivar-se até 10 folhas de papel! Nesta mudança de processos, a SPV foi pioneira entre as suas congéneres. Manuel Pássaro, diretor do Departamento de Planeamento e Projetos e o colaborador mais antigo da SPV, recorda como tudo começou: “A reciclagem limitava-se ao vidro. Em termos da predisposição do consumidor, a situação era muito incipiente, foi partir do zero. Foi como se tivéssemos de construir um edifício partindo de um terreno sem nada, com necessidade de haver um projeto e passar depois à prática. Constituiu-se a SPV em termos formais em 1996 e começou-se a pensar como se implementava o sistema com base no exemplo de empresas semelhantes que existiam na Alemanha, Bélgica e França.” Começou por estar envolvido na preparação do caderno de encargos que se tinha de submeter à tutela – os Ministérios do Ambiente e da Economia –, e só passado um ano, e após o licenciamento, se pôde atuar ao nível dos vários parceiros. Seguiram-se muitos quilómetros pelo país para reuniões com as câmaras, de forma a sensibilizar para a implementação da recolha seletiva nos seus concelhos. Assim como as campanhas de comunicação para incentivar os consumidores a reciclar. Foi esta simbiose que permitiu que tudo avançasse. 


Mundo em mudança  

“O mundo de hoje é seguramente muito diferente do dos anos 90. Aqueles hábitos de separação de resíduos para reciclagem que eram de uma elite de cidadãos estão hoje vulgarizados para um universo de milhões, para quem a separação é uma atitude natural. Inclusive a não separação, ou a indiferença perante a reciclagem multimaterial, é muito criticada e motivo de censura”, afirma Fernando Leite, presidente da LIPOR, o sistema de gestão de resíduos da área do Grande Porto. Em todo o processo de evolução dos hábitos de sustentabilidade, recorda uma história curiosa: “Um casal, há uns anos, seguiu um camião municipal bicompartimentado de recolha de papel/ cartão e de plástico e metais porque se quis certificar de que os diferentes resíduos não eram depois todos misturados no nosso centro de triagem. Para este casal terminou o mito de ‘para quê separar se depois na LIPOR eles misturam tudo?’.” 

 

Podemos ser um país de brandos costumes, mas também de educadores ambientais: a celebrar as duas décadas de existência em Portugal está também o Eco-Escolas, um programa internacional da Foundation for Environmental Education, desenvolvido em Portugal desde 1996 pela Associação Bandeira Azul da Europa. Esta é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, dedicada à educação para o desenvolvimento sustentável e à gestão e reconhecimento de boas práticas ambientais.

 

Se em 1996 a Seleção Nacional de Futebol não passou dos quartos de final do Euro, em 2016 o nosso plantel trouxe a taça para casa. Portugal venceu a França por 1-0, após prolongamento na emocionante final. Éder, aos 109 minutos, marcou o golo que fez do país campeão europeu. No dia 10 de julho, o sentimento de orgulho dominou a nação de Camões. E nem só o futebol é motivo de alegria desportiva: o presidente do Comité Paralímpico de Portugal defendeu que a participação portuguesa nos Jogos Paralímpicos Rio2016 superou as melhores expectativas, com a conquista de quatro medalhas de bronze e 25 diplomas.


Diz-me o que ouves...  

José Rodrigues dos Santos, o escritor que mais vende em Portugal, lançou em outubro de 2016 o seu mais recente livro, Vaticanum. Há 20 anos foi o jovem jornalista e pivô da RTP que anunciou no telejornal a notícia da constituição, a 19 de novembro de 1996, da Sociedade Ponto Verde. Em 1996, a música nacional andava nos ouvidos de todos, mas duas décadas mais tarde também há boas promessas. É o caso de Agir, que recentemente cativou pais e filhos numa sala icónica da capital, o Coliseu dos Recreios. O filho do músico Paulo de Carvalho e da atriz Helena Isabel mostra que a veia artística lhe corre no sangue. A mãe do jovem músico foi Beatriz na novela de 1996 Vidas de Sal, e é em 2016 Assunção Lencastre em A Impostora, da TVI. Tudo é um ciclo, tal como no mundo da reciclagem.


Como estamos agora de  hábitos de reciclagem?  

Entre dezembro de 2013 e até ao final do primeiro trimestre de 2015, com a Missão Reciclar, a Sociedade Ponto Verde foi para a rua e bateu à porta dos portugueses. Contactou dois milhões de lares, distribuindo 300 mil ecobags, clarificando as regras de reciclagem a todos os que já reciclam e recolhendo dados sobre os seus hábitos e atitudes.

 

Os tempos mudam e a SPV adapta-se a eles também em termos de educação ambiental. Esta ação levou a reciclagem a casa daqueles que não separam, quis acabar com mitos de separação e incentivar todos a separar cada vez mais e melhor. Nesta ação foram recolhidos dados que nos permitem afirmar que a falta de recipientes próprios para o efeito é o argumento mais utilizado para não realizarem atualmente em casa a separação de embalagens usadas e outros resíduos. Outra conclusão: as categorias de produtos onde mais predominam práticas de não separação são os aerossóis, couvettes de metal e bases de esferovite. Quanto a boas notícias, parece haver bastante predisposição da parte de quem atualmente não separa: 93% de famílias assumem poder vir a mudar o seu comportamento. É nos distritos de Lisboa (76%), Leiria (75%) e Vila Real (72%) que se encontram os valores mais elevados de separação.


Um país mais sustentável  

Apagamos as 20 velas com olhos no futuro. António Barahona d’Almeida, presidente do conselho de administração da SPV, destaca o contributo “muito relevante para o cumprimento das metas nacionais estabelecidas pela UE retirando Portugal, em 20 anos, dos países mais atrasados e colocando-o como bom exemplo europeu”. Apesar de considerar inegável uma crescente sensibilização dos portugueses para as boas práticas da reciclagem, ainda é possível “aumentar as quantidades por maior adesão e mais separação na origem e aumentar a qualidade dos resíduos pela prática de separação correta”.

 

Em altura de balanço, podemos também perspetivar o que se segue. Qual será, para o presidente da LIPOR, o maior desafio para a SPV em termos do futuro da reciclagem em Portugal? “É nossa convicção que o modelo de negócio no setor dos resíduos vai mudar significativamente nos próximos anos. Adaptar-se a esta mudança é o desafio da SPV, como também da LIPOR. A alteração do estilo de vida, dos hábitos e dos padrões de comportamento dos cidadãos vai comandar esta mudança”, avança. Já António Barahona d’Almeida adianta à Recicla: “É manter o compromisso de contributo muito relevante para o cumprimento das metas nacionais, fazendo-o a custos sustentáveis e lutando por uma concertação equilibrada de múltiplos interesses para partilha de benefícios com a sociedade.” As palavras do poeta castelhano António Machado – “o caminho faz-se caminhando” – aplicam-se à SPV, que trilhou um percurso sólido e desbravou consciências em prol de um país mais sustentável.

 

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