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BABY BOOM NO ZOO DE LISBOA
Baby Boom no ZOO de Lisboa
2016-07-27
Baby Boom no ZOO de Lisboa


O Jardim Zoológico está cheio de bebés. Centrando a sua missão na preservação das espécies, os números divulgados por Tiago Carrilho, biólogo responsável pelo Centro Pedagógico, apontam para cerca de 150 a 200 nascimentos por ano de um total de 70 espécies, colocando o Jardim Zoológico de Lisboa no primeiro lugar do ranking dos centros com taxas de reprodução mais elevadas da Europa. Só nos últimos meses, a família aumentou consideravelmente, com mais de 10 espécies a acrescentarem novos membros aos seus núcleos.

 

A organização das instalações pode justificar parte do sucesso, mas os bons resultados devem se sobretudo ao respeito e estudo aprofundado das espécies. Tiago Carrilho explica à Recicla que, “antes de se poder pensar na reprodução, é preciso conhecer as características de cada espécie, analisar o seu comportamento no habitat natural e adequá-lo ao ecossistema do Jardim Zoológico, para proporcionar o maior bem-estar possível aos animais, já que estes só se dispõem a acasalar quando se sentem verdadeiramente em casa”. E se com algumas espécies este processo é relativamente fácil, com outras são precisos alguns truques de gestão. Como é o caso do ocapi, cujo método de acasalamento obrigou a um reajustamento das instalações, com a criação de um declive no terreno para minimizar as diferenças de porte entre machos e fêmeas. “São pequenos pormenores que fazem toda a diferença”, explica o biólogo enquanto apresenta a cria com seis meses de vida, que veio contrariar a ameaça de extinção desta espécie, conhecida pela timidez e modo de vida solitário. Já o panda vermelho, admite Tiago, “foi um fenómeno”.

 

Apesar da sua capacidade de adaptação, esta espécie nativa das montanhas do Nepal é conhecida pelas dificuldades de procriação na vida selvagem. Adivinhava-se uma dor de cabeça quando o primeiro casal chegou a Lisboa, depois de outros congéneres europeus terem tentado, sem sucesso, aumentar a espécie. Em menos de três meses cá, conseguiu-se o acasalamento, e hoje, diz o técnico, “a cria é uma das que desperta mais curiosidade nos visitantes pelas suas características físicas, que, apesar da designação, não se assemelham às do panda. Há até quem diga que parece uma mistura entre uma raposa e um urso numa versão mais fofinha”.

 


De mão dada com a conservação

 

Durante anos os jardins zoológicos iam buscar os animais à Natureza, mas hoje em dia o processo inverteu-se, muito por causa do ideal de conservação de espécies, que determina um dos pilares de funcionamento da Rede Europeia de Jardins Zoológicos e Aquários, na qual se inclui o de Lisboa. Atualmente, o que se pretende é devolver ao ecossistema selvagem o maior número possível de animais.

 

O órix-de-cimitarra, espécie oriunda dos desertos do Norte de África praticamente extinta na Natureza, é um bom exemplo desse trabalho. As duas crias nascidas em Lisboa em novembro do ano passado trouxeram nova esperança à preservação e eventual reintrodução da espécie no seu habitat natural. Mas para isso, justifica Tiago Carrilho, “é preciso acompanhar de perto a evolução de cada animal e prepará-lo para a vida fora do cativeiro”. Por isso todos os dias são lançados novos desafios aos animais, de forma a estimular os seus comportamentos naturais, como, por exemplo, dificultar o acesso à comida. “Uma reintrodução só pode considerarse bem sucedida se o animal se ambientar ao local sem dificuldades e se for capaz de desenvolver as capacidades de se alimentar e reproduzir.”

 

Com os gorilas, uma das espécies de primatas mais ameaçada pela caça para alimentação humana e destruição do habitat, a reprodução (que só pode acontecer com intervalos de quatro a seis anos) foi uma vitória. Em março de 2015 nasceu Jahari, cujo nome significa “forte e poderoso”, e que estará até ao próximo ano dependente do leite da mãe. Tiago admite, aliás, que é com as crias de espécies primatas que os visitantes estabelecem maior empatia, por conseguirem identificar-lhes comportamentos semelhantes aos dos humanos, especialmente no tipo de brincadeiras e na ligação com a mãe.
O mesmo se comprova com os orangotangos-de sumatra, onde também há um novo elemento a alegrar a colónia, e com o gibão-de-mãos-brancas, que recebeu recentemente um recém-nascido e que tem a particularidade de ser uma das raras espécies que forma casais para a vida.
 


Há espaço para todos?

 

A sustentabilidade do Jardim Zoológico depende de uma gestão populacional cuidada. O espaço é limitado e, como tal, as colónias não podem crescer desordenadamente. “Isso raramente acontece”, diz Tiago Carrilho, explicando que de vez em quando é preciso realojar os “hóspedes” em excesso noutros jardins zoológicos onde possam ser úteis para acasalamento. Foi o que aconteceu com o hipopótamo Zé Maria, que trocou Lisboa por Turim, onde havia necessidade de manutenção e preservação da espécie. A ocupar o lugar de mais novo da família está agora um bebé de um ano, que, apesar da tenra idade, já manifesta uma das principais características desta espécie: a territorialidade.

 

Também as chitas levam este assunto do território muito a sério, sendo que no seu caso específico a discussão acontece entre machos e fêmeas, que só se podem ver no momento da cópula. Ao contrário do que seria de esperar de um felino que em apenas quatro segundos consegue atingir uma velocidade de 120 km/hora, a agilidade não é a sua maior virtude. Têm força explosiva, mas aguentam pouco tempo a correr. Em compensação, aos três anos de idade estão completamente aptos a caçar e é nesse momento que se tornam independentes da mãe. Com alguma paciência e olho atento é possível acompanhar a rotina da supermãe chita, sempre com muita atenção às três crias acabadas de nascer.

 

Igualmente reservadas são as girafas, que em dias de chuva não se mostram a ninguém. Para ver a nova mascote de cinco meses, o ideal é esperar por um dia soalheiro. A Recicla não teve grande sucesso, tendo avistado somente um focinho curioso, que se mostrou com a mesma rapidez com que se escondeu perante os olhares estranhos. Mas Tiago aproveitou para esclarecer alguns mitos em relação à espécie. Sabia que as girafas têm sete vértebras no pescoço, tal como nós?

 

Surpreendente é também o facto de o seu coração poder pesar qualquer coisa como 12 kg – faz sentido se pensarmos que o músculo cardíaco é responsável por fazer chegar o sangue ao cérebro e que, no caso das girafas, há muito pescoço pelo caminho. Na verdade, as crias podem nascer com 1,90 m e crescer até aos seis metros de altura. Mas mesmo impressionante é estar presente quando nasce uma cria. “Já aconteceu com o órix austral durante uma visita guiada e pode acontecer a qualquer momento. Basta aparecer e observar com atenção, respeitando sempre o espaço físico e emocional dos animais.” O convite está feito: venha dar as boas-vindas aos novos habitantes do Jardim Zoológico.



HIPOPÓTAMO
São animais muito territoriais desde tenra idade 

Os hipopótamos, apesar de gordinhos, conseguem correr a uma velocidade de 45 km/hora. Não têm predadores na Natureza e, ao contrário do que se julga, não estão sempre dentro de água. Mas é lá que acasalam, dão à luz e amamentam as crias.


ORANGOTANGO-DE-SUMATRA
Novo elemento veio animar a colónia de Lisboa
Os orangotangos-de-sumatra não sabem nadar porque as suas omoplatas não lhes permitem fazer o movimento rotativo do braço. Por esse motivo, dificilmente se aproximam de água, especialmente se não conseguirem ver o fundo. Têm uma memória 30% superior à humana e são capazes de construir os seus próprios utensílios de caça.

 


OCAPI
Esta espécie está ameaçada de extinção na Natureza 

O ocapi só foi descoberto em 1919, no coração da floresta tropical, e é conhecido como “girafa da floresta”, pelas suas patas às manchas, que servem de camuflagem contra os leopardos – o seu maior predador. É geralmente um animal muito tímido e um dos poucos herbívoros que vive de forma solitária. Têm a particularidade de o macho ser mais pequeno do que a fêmea e a sua língua pode chegar a 60 cm de comprimento.

 


ÓRIX-DE-CIMITARRA
Novas crias trazem esperança à preservação

A extinção do órix-de-cimitarra do seu habitat natural deveu-se, em grande parte, à caça por parte das tribos africanas, que acreditavam que eram animais possíveis de domesticar. Desapareceram da Natureza há cerca de 20 anos, mas foram recentemente reintroduzidos num deserto norte-africano e estão em observação até estarem aptos a sobreviver em ambiente selvagem.

 


GIRAFA
As crias podem nascer com 1,90 m de altura

As girafas dormem apenas uma hora por dia e sempre de pé, pois deitadas ficam vulneráveis aos predadores. Quando querem comer do chão, afastam as patas, numa acrobacia impressionante. As manchas do pelo permitem aguentar temperaturas muito elevadas.
 

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